sábado, 9 de julho de 2011

matéria no DN sobre o filme Fca Carla e publicada no site do cantor Ney Matogrosso

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1007719

http://www2.uol.com.br/neymatogrosso/imp_jul11_02.html

Francisca Carla: Martirizada pelo preconceito
Ney Matogrosso, Elke Maravilha e o ator Vinícius de Oliveira, de Central do Brasil, estão entre o elenco do média-metragem cearense “Fca Carla”, que conta a história da santa popular estigmatizada pela hanseníase

Do alto da chapada da Ibiapaba, na divisa do Ceará com o Piauí, a força de uma história que envolve preconceito, autossacrifício, caridade e fé chegou às telas dos cinemas, angariando simpatizantes como o cantor Ney Matogrosso, o ator Vinícius de Oliveira e a polêmica Elke Maravilha, que fazem parte do elenco. O filme “Fca. Carla” foi exibido, recentemente, em uma das mostras paralelas do Cine Ceará.

Ele conta a história da empregada doméstica Francisca Carla, morta no isolamento após contrair hanseníase, vulgarmente conhecida como lepra. Mais de um século após sua morte, ela é cultuada como santa em Tianguá e o local onde viveu isolada na mata virou ponto de visitação de seus fieis.

O filme, rodado em Tianguá em formato digital, é um média metragem de 33 minutos, realizado com baixo orçamento pelo diretor estreante Natal Portela. Na equipe, ele contou com o apoio de figuras mais experientes, como o produtor Robério Belchior, o assistente de direção Armando Praça e o fotógrafo Ivo Lopes. No elenco, além dos três artistas convidados, estão atores cearenses, caso da cantora Marta Aurélia, além de atores amadores residentes na região.

“Eu cheguei até o filme por que sou voluntário no Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas por Hanseníase (Morhan)”, lembra Ney Matogrosso sobre sua participação no filme. “Durante o tempo que a gente se comunicou, conheci a história dessa pessoa obrigada a morar no meio do mato e cada vez mais pra longe para morrer sozinha”, conta.

Ele foi procurado pelo produtor Robério Belchior e, assim como Vinicius e Elke, que também faz parte do Morhan, topou participar sem cobrar cachê, como forma de contribuir com a divulgação de informação sobre a doença. “Antes de entra no Morhan, não sabia nada sobre hanseníase, como todos no País. Achava que não existia mais”, lembra Ney.

Filme

O livro “Um olhar sobre Francisca Carla e outros fatos de Tianguá”, de Luiz Gonzaga Bezerra, e agora o filme são as dois registros inscritos que tem-se da história de Francisca Carla. É nas histórias contadas oralmente que a memória da santa popular de Tianguá sobrevive. “O nome Francisca Carla é muito forte aqui na região. Tem salão de beleza com esse nome, comércio, farmácia. Para a gente, foi uma dificuldade, ainda que não estivéssemos fazendo apenas para cá, porque todo mundo tem uma referência da história”, lembra o diretor Natal Portela.

Além de dirigir, ele assina também o roteiro, juntamente com Daniel Sá e Márcio Araújo, e parte da trilha sonora. Diante das inúmeras histórias que correm em torno da santa, eles optaram por seguir uma linha mais poética e pessoal, se distanciando da necessidade da reprodução fielmente os acontecimentos. “As pessoas que assistem, às vezes, se decepcionam porque alguma história não entrou”, confessa o diretor, que ainda assim teve que expandir o filme, inicialmente projetado para ser um curta-metragem, para dar conta da narrativa.

Sem seguir uma linha de tempo linear, o filme traça em paralelo à história de Francisca Carla, interpretada por Marta Aurélia, e de Joana, beata dos dias atuais, que paga promessa feita à santa para que curasse sua neta. Ney Matogrosso interpreta o médico que, na passagem mais conhecida popularmente, identifica a doença de Francisca durante um almoço preparado por ela. Após o diagnóstico, ela é obrigada a abandonar a casa, sendo conduzida pelos próprios pais para um ponto isolado da chapada.

“Francisca morre para que a neta de Joana fosse curada. Morre para que cada pessoa que tem fé nela alcance a graça que esta buscando”, diz Natal, divagando sobre o significado simbólico que se pode tirar da narrativa.

Ele conta que uma das preocupações foi não dar ao filme um tom panfletário, didático para alertar o espectador sobre a doença de Francisca. “O ponto maior é o da religiosidade popular, apesar da hanseníase ser o motor da trama toda. A criatura sofre, se ilumina e vira santa”, explica ele, destacando o sacrifício de Francisca Carla ao aceitar a condição que lhe foi imposta pela sociedade.

Baixo orçamento

A produção começou a ser articulada em 2007, quando o projeto ganhou o edital da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. Daí para o início das gravações foram quase três anos. Nesse tempo, eles conseguiram patrocínio da Prefeitura de Tianguá, por meio da Secretaria de Educação, Cultura e Turismo; do Governo do Estado, via Secretaria de Cultura do Ceará e Secretaria de Turismo, além do apoio de comerciantes e empresários da região.

“A gente tinha quase 100 figurantes, tinha um projeto de cenografia que fugia do que podíamos pagar. Dá um desespero vê que as coisas não vão sair como planejado. A gente pensa que o filme vai acabar”, conta Natal, lembrando das dificuldades de realizar um filme com baixo orçamento e, ainda de quebra, como estreante. Foi preciso excluir sequências, enxugar elenco. No fim, ele garante, o resultado foi bastante positivo.

Após a exibição do filme em Tianguá durante um mês na Associação Cultural de Amigos da Arte (Garatuja) e estreia em Fortaleza no Cine Ceará 2011, eles buscam apoio na intenção de circular festivais Brasil a fora. “Os festivais são um canal legal para se divulgar, pois tão importante quando fazer um filme é mostrar”, avalia. Para saber mais sobre o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase ou mais informações sobre a doença, acesse http://www.morhan.org.br.