quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A Mão na Face - estréia oficial em Fortaleza

MARA sob a lente de Diego Souza
Sesc Iracema





A Mão na Face no Forrainbow

MARA sob a lente de Lilia Moema
09 de dezembro de 2012
Biblioteca Dolor Barreira
19 horas


Bagaceira mostra suas faces no Festival Recife do Teatro Nacional




Na ordem, Ayrton Pessoa, Rafael Martins, Démick Lopes, Marta Aurélia, Yuri Yamamoto, Denis Lacerda, Samya de Lavor e Rogério Mesquita.

Grupo Bagaceira: Rafael, Yuri, Démick e Samya.

Convidados: Ayrton Pessoa, Denis Lacerda e Marta Aurélia.

Depois da tensão pré-estréia, uma estréia com tudo que se tem direito de bom e ótimo: lugar, evento, companhias, críticas e receptividade: tudo pra cima, instigante e desafiante!

A Mão na Face estréia no Festival Recife do Teatro Nacional



Por Alexandre Figueirôa 

O duelo das divas suburbanas 

Na cena contemporânea, cada vez mais reconheço que um dos caminhos mais férteis é o que poderíamos chamar de um teatro da intimidade. Um teatro composto por peças curtas, no entanto, com personagens suficientemente fortes e destemidos para exporem seus infortúnios e angústias existenciais face a face com quem está diante deles. E de preferência encenadas em espaços que reforcem a sensação de proximidade, onde cada gesto, cada olhar, possa ser sentido em toda sua intensidade, levando ator e plateia a entrarem numa espécie de cumplicidade capaz de despertar em ambos os lados o desejo de se conhecerem ainda mais. A Mão na Face do Grupo Bagaceira de Teatro, espetáculo em cartaz neste final de semana no Teatro Hermilo Borba Filho, dentro da programação do Festival Recife do Teatro Nacional, nos oferece esta possibilidade.

O texto de Rafael Martins, com direção de Yuri Yamamoto, é uma pequena bijuteria cujo brilho é tão intenso que hipnotiza nossos olhos e corações. No camarim de um cabaré Mara, uma cantora e prostituta em fim de carreira, após apresentar seu número, conversa com Gina, um travesti jovem que se veste para subir ao palco. O ponto de partida do espetáculo descrito assim pode parecer trivial e prosaico. Mas ao entrarmos no espaço cênico do Teatro Hermilo Borba Filho, logo descobrimos que o camarim, onde Mara e Gina desfilarão seus medos, sonhos e inquietações, não é apenas deles.



 Foto: Marcelo Lyra

Disposto no centro do espaço entre os dois lances de arquibancadas, o camarim é uma caixa vazada com espelhos nas duas extremidades. Num dos lados Mara retira sua peruca, os brincos, afrouxa o vestido e encara a sua própria imagem de mulher envelhecida, amarga, tentando segurar os poucos fios que ainda a prendem à vida. No outro lado, Gina. Apesar de jovem e vaidosa, sonhando até em colocar seios de silicone e ir para a Europa, ao mirar o seu reflexo de criatura insegura e quase patética, ela verá que não é muito diferente de sua amiga. É deste confronto de desigualdades e semelhanças que A Mão na Face ultrapassa a banalidade de uma situação corriqueira e põe em cena um embate do qual é impossível sairmos indiferentes.

Tanto o texto quanto a encenação não deixam de lado os inevitáveis temas que emergem em situações como esta e que são permeadas pela rivalidade amorosa entre estrelas, não importa se elas sejam de Hollywood, da Comèdie Française ou de um puteiro suburbano. Mara e Gina se admiram, sentem inveja uma da outra, compartilham o mesmo palco e, no passado, até dividiram o mesmo homem. Mas, no espetáculo há, nas entrelinhas, um dado que empresta ao duelo de divas um vigor especial. Na miséria afetiva de suas vidas, apenas reconhecendo o amor que elas sentem entre si permitirá que elas sigam em frente.

 Foto: Marcelo Lyra

Todo este desenho dos personagens, todavia, não valeria nada se a direção não tivesse conseguido dosar o elemento caricatural que acompanha estas figuras. Tirá-lo seria trair a própria essência destes personagens. Ele está, portanto, presente, porém só vem à tona no momento preciso. E os atores compreenderam bem esta proposição. Marta Aurélia e Demick Lopes conseguem encarnar suas criaturas com o tom de interpretação adequado. Marta compôs uma Mara exuberante. Sua voz é forte e sua presença cênica segue aquilo que o próprio texto encenado revela. Ao ensinar Gina como se comportar no palco do cabaré Mara afirma: “o ator no palco precisa dominar a plateia, caso contrário será devorado por ela”. E é exatamente assim que Marta faz, ao se dirigir ao público, ela não lança seu olhar para um ponto indeterminado. Ela fita a plateia no fundo do olho de cada um e nos fala diretamente como se fôssemos Ginas e Maras.

É importante anotar que texto e mise en scène arquitetam um mundo em transformação. A aura de romantismo decadente dos cabarés ganha protagonistas com novos corpos e desejos, embora haja uma nostalgia ou uma reverência ao que está desaparecendo. Desde o início, quando Mara canta a bela canção de Cacaso, Dentro de Mim Mora um Anjo, a peça estabelece uma diferença entre ela e sua amiga e rival. O artifício nos desperta a empatia pela velha prostituta em fim de carreira, pois ela canta, enquanto Gina, o travesti, apenas movimenta os lábios. A maestria no manuseio destes elementos dramáticos dispondo-os em camadas é sem dúvida resultado da maturidade do Grupo Bagaceira e num espetáculo como este ou isto era realizado com precisão ou ele perderia seu potencial de provocar inquietação no espectador. Com simplicidade, poesia e intimidade A Mão Na Face fere nossa pele como se fosse uma lâmina afiada.

http://15frtn.blogspot.com.br/


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Satisfeita, Yolanda? 
Por Ivana Moura e Polliana Diniz
A mão na face, do grupo Bagaceira, estreou no FRTN. Foto: Pollyanna Diniz
A mão na face
O cenário da nova montagem do Grupo Bagaceira, do Ceará, é o camarim de uma boate. A cantora decadente acaba de sair do palco e agora quem se prepara para entrar é um travesti. Enquanto estão ali conversam sobre a vida. O texto de Rafael Martins nos dá vários socos no estômago ao longo da encenação; mas é na oscilação entre a comédia e o drama que está a chave para a montagem. Démick Lopes (Gina) e Marta Aurélia (Mara) conseguem segurar muito bem esse jogo. Podem sair de um embate de palavras dolorido, cheio de significados, para sonoras gargalhadas.
É um texto sensível; que traz as incompletudes, as frustrações, a falta de amor, mas também a amizade, o carinho. No meio desses dois personagens está um homem que já morreu e que, ao que parece, era dividido pela cantora e pelo travesti. E com o tempo passando, até disso eles conseguem rir ou chorar.
A direção é de Yuri Yamamoto. A construção do cenário é muito interessante. Traz o espectador pra bem pertinho; como voyer de uma relação que pode ter muitas reviravoltas; mas onde as coisas não necessariamente esão explícitas. Há paredes, mesmo que imaginárias. São os espelhos que tentam revelar, mas só mostram os personagens já montados, o batom vermelho, a luz caindo aos poucos, a fumaça do cigarro no ar.

Demick Lopes faz um travesti e Marta Aurélia uma cantora
### No dia em que vi o espetáculo, a atriz Ceronha Pontes estava na plateia. O espetáculo, inclusive, foi dedicado a ela, que também é cearense. Talvez a presença de Ceronha tenha despertado em mim algo que é por demais óbvio. Como esse trabalho é próximo do coletivo Angu de Teatro! A temática, o tratamento, a estética. Impossível não pensar que aqueles personagens cairíam como luvas em Ceronha Pontes, Márcia Cruz, Arilson Lopes, Vavá Schön-Paulino. Deu ainda mais vontade de ver o projeto Abuso, que surgiu a partir do intercâmbio que as duas companhias fizeram através do edital do Itaú Cultural, ser levado aos palcos.
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/tag/festival-recife-do-teatro-nacional-2012/