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A mão na face
O cenário da nova montagem do Grupo Bagaceira, do Ceará, é o camarim de uma boate. A cantora decadente acaba de sair do palco e agora quem se prepara para entrar é um travesti. Enquanto estão ali conversam sobre a vida. O texto de Rafael Martins nos dá vários socos no estômago ao longo da encenação; mas é na oscilação entre a comédia e o drama que está a chave para a montagem. Démick Lopes (Gina) e Marta Aurélia (Mara) conseguem segurar muito bem esse jogo. Podem sair de um embate de palavras dolorido, cheio de significados, para sonoras gargalhadas.
É um texto sensível; que traz as incompletudes, as frustrações, a falta de amor, mas também a amizade, o carinho. No meio desses dois personagens está um homem que já morreu e que, ao que parece, era dividido pela cantora e pelo travesti. E com o tempo passando, até disso eles conseguem rir ou chorar.
A direção é de Yuri Yamamoto. A construção do cenário é muito interessante. Traz o espectador pra bem pertinho; como voyer de uma relação que pode ter muitas reviravoltas; mas onde as coisas não necessariamente esão explícitas. Há paredes, mesmo que imaginárias. São os espelhos que tentam revelar, mas só mostram os personagens já montados, o batom vermelho, a luz caindo aos poucos, a fumaça do cigarro no ar.
### No dia em que vi o espetáculo, a atriz Ceronha Pontes estava na plateia. O espetáculo, inclusive, foi dedicado a ela, que também é cearense. Talvez a presença de Ceronha tenha despertado em mim algo que é por demais óbvio. Como esse trabalho é próximo do coletivo Angu de Teatro! A temática, o tratamento, a estética. Impossível não pensar que aqueles personagens cairíam como luvas em Ceronha Pontes, Márcia Cruz, Arilson Lopes, Vavá Schön-Paulino. Deu ainda mais vontade de ver o projeto Abuso, que surgiu a partir do intercâmbio que as duas companhias fizeram através do edital do Itaú Cultural, ser levado aos palcos.
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