quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ao léo

Um tanto à deriva, perde ele as contas dos passos que dá. Era só reminiscência de infância a brincadeira de contar os passos. Um, dois, três pareceu ouvir o som de sua própria voz quando contava para, ao se escutar, sentir-se acompanhado de alguém, no caso, de si mesmo. Por instantes, a incrível paisagem lhe remeteu ao dia em que passeava colado à saia de sua mãe, quando teve sua primeira experiência de sublime que sua memória alcança neste momento. Sua mãe tinha o poder de lhe fazer sentir-se livre. Talvez pressentisse sua ida precoce.

Diante do infinito, entretanto, amedrontou-se. Nunca havia se deparado com algo tão imenso que seus olhos não pudessem medir. Assaltou-lhe um instante de vertigem, como se o chão fugisse aos seus pés. Sentiu medo de se desligar de sua mãe. Imaginou, repentinamente, que ela desapareceria no horizonte sem fim levada pelo vento e por isso agarrou sua mão com força. Tanta força que ela lhe sorriu com carinho esclarecedor, e, como quem entende o que se passa com o menino diante do mundo dos grandes, sussurrou, confortando-lhe, um breve não tenha medo, estou aqui.

Era tudo que ele precisava naquele momento. Sentir-se seguro no colo de sua mãe. Voltou a contar os passos, quebrando a linha da memória, para seguir. Algumas lágrimas desceram discretamente lhe renovando a disposição diante da paisagem. O vento lhe tocava a pele de modo que se sentia acolhido por tudo que lhe cercava. Sentiu-se parte daquele lugar, desde a vegetação aos animais que menos via e mais ouvia. Sentiu-se parte do próprio vento, parte de tudo. Não precisava correr, apenas ser, daquele jeito, ali. Sua caminhada era um estado interior que acolhia a concretude do seu ser. Sorriu à sua sorte e à saudade!

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