terça-feira, 18 de outubro de 2011

A Voz

www.vozcriativa.blogspot.com

A Poesia, o Tempo e a Diversidade

"...poesia - ápice de toda alegria estética..."

"Como penetrar na esfera poética do nosso tempo? Uma era de imaginação livre acaba de abrir-se. Em toda parte as imagens abrem os ares, vão de um mundo a outro, chamam ouvidos e olhos para sonhos engrandecidos. Os poetas abundam, os grandes e os pequenos, os célebres e os obscuros, os que amamos e os que fascinam. Quem vive para a poesia deve ler tudo. Quantas vezes de uma simples brochura, jorrou para mim a luz de uma imagem nova! Quando aceitamos ser animados por imagens novas, descobrimos irisações nas imagens dos velhos livros. As idades poéticas unem-se numa memória viva. A nova idade desperta a antiga. A antiga vem reviver uma nova. Nunca a poesia é tão una como quando se diversifica."  ( Gaston Bachelard, A Poética do Devaneio )




quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Abertura da Série Depoimentos com Leila Pinheiro

Após uma noite maravilhosa no Foyer do TJA no dia 27 de agosto passado, com toda a banda, hoje me preparo para mais uma noite especial logo mais às 20h no Anfiteatro do Dragão do Mar com Felipe Breier ( violão e voz ), Marco Leonel Fukuda ( violão ), Aristides Neto ( cuíca ) e Erivan Produtos do Morro ( beat box e rap ) e supervisão de nosso diretor musical Jorjão Santa Rosa:

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1034489

http://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=194169323983846&id=1034738852#!/profile.php?id=1034738852

Entre outros autores, o repertório constará de músicas de minha autoria, que estarão no próximo disco Bilro, e de canções dos índios tremembé de Almofala.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Acústica e Movente no Youtube

Acústica e Movente ( Altos do Foyer do Theatro José de Alencar: dias 6, 13 e 27 de agosto, 19h )

video gravado por Sidney Souto
Música: Bring back the love, de Bebel Gilberto

http://www.youtube.com/watch?v=Ukg1Wf4-Nbs&feature=youtu.be

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Acústica e Movente: nova temporada!

Queridos amigos e amigas, após um período meio fora do ar por motivos de saúde mas agora devidamente recuperada, volto aos palcos com o sentimento de gratidão por todo apoio, amizade e afeto que recebi e continuo recebendo e também com a certeza de que a arte é o caminho para acessar o melhor que a vida oferece! Com esse sentimento volto ao Theatro José de Alencar aos sábados de agosto às 19 horas... para mais uma temporada de Acústica e Movente ao lado dos integrantes de minha banda: Jorjao Santa Rosa, Felipe Breier, Ivan Timbó, Erivan Produtos Do Morro, Marco Leonel Fukuda, Soledad Brandão e Natasha Faria. Com participação especial de Iago Domingos Bezerra Pinheiro e Aristides Neto e outros amigos que participarão da movência desse espetáculo cênico-musical totalmente acústico. Abraços e beijos!!!

sábado, 9 de julho de 2011

matéria no DN sobre o filme Fca Carla e publicada no site do cantor Ney Matogrosso

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1007719

http://www2.uol.com.br/neymatogrosso/imp_jul11_02.html

Francisca Carla: Martirizada pelo preconceito
Ney Matogrosso, Elke Maravilha e o ator Vinícius de Oliveira, de Central do Brasil, estão entre o elenco do média-metragem cearense “Fca Carla”, que conta a história da santa popular estigmatizada pela hanseníase

Do alto da chapada da Ibiapaba, na divisa do Ceará com o Piauí, a força de uma história que envolve preconceito, autossacrifício, caridade e fé chegou às telas dos cinemas, angariando simpatizantes como o cantor Ney Matogrosso, o ator Vinícius de Oliveira e a polêmica Elke Maravilha, que fazem parte do elenco. O filme “Fca. Carla” foi exibido, recentemente, em uma das mostras paralelas do Cine Ceará.

Ele conta a história da empregada doméstica Francisca Carla, morta no isolamento após contrair hanseníase, vulgarmente conhecida como lepra. Mais de um século após sua morte, ela é cultuada como santa em Tianguá e o local onde viveu isolada na mata virou ponto de visitação de seus fieis.

O filme, rodado em Tianguá em formato digital, é um média metragem de 33 minutos, realizado com baixo orçamento pelo diretor estreante Natal Portela. Na equipe, ele contou com o apoio de figuras mais experientes, como o produtor Robério Belchior, o assistente de direção Armando Praça e o fotógrafo Ivo Lopes. No elenco, além dos três artistas convidados, estão atores cearenses, caso da cantora Marta Aurélia, além de atores amadores residentes na região.

“Eu cheguei até o filme por que sou voluntário no Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas por Hanseníase (Morhan)”, lembra Ney Matogrosso sobre sua participação no filme. “Durante o tempo que a gente se comunicou, conheci a história dessa pessoa obrigada a morar no meio do mato e cada vez mais pra longe para morrer sozinha”, conta.

Ele foi procurado pelo produtor Robério Belchior e, assim como Vinicius e Elke, que também faz parte do Morhan, topou participar sem cobrar cachê, como forma de contribuir com a divulgação de informação sobre a doença. “Antes de entra no Morhan, não sabia nada sobre hanseníase, como todos no País. Achava que não existia mais”, lembra Ney.

Filme

O livro “Um olhar sobre Francisca Carla e outros fatos de Tianguá”, de Luiz Gonzaga Bezerra, e agora o filme são as dois registros inscritos que tem-se da história de Francisca Carla. É nas histórias contadas oralmente que a memória da santa popular de Tianguá sobrevive. “O nome Francisca Carla é muito forte aqui na região. Tem salão de beleza com esse nome, comércio, farmácia. Para a gente, foi uma dificuldade, ainda que não estivéssemos fazendo apenas para cá, porque todo mundo tem uma referência da história”, lembra o diretor Natal Portela.

Além de dirigir, ele assina também o roteiro, juntamente com Daniel Sá e Márcio Araújo, e parte da trilha sonora. Diante das inúmeras histórias que correm em torno da santa, eles optaram por seguir uma linha mais poética e pessoal, se distanciando da necessidade da reprodução fielmente os acontecimentos. “As pessoas que assistem, às vezes, se decepcionam porque alguma história não entrou”, confessa o diretor, que ainda assim teve que expandir o filme, inicialmente projetado para ser um curta-metragem, para dar conta da narrativa.

Sem seguir uma linha de tempo linear, o filme traça em paralelo à história de Francisca Carla, interpretada por Marta Aurélia, e de Joana, beata dos dias atuais, que paga promessa feita à santa para que curasse sua neta. Ney Matogrosso interpreta o médico que, na passagem mais conhecida popularmente, identifica a doença de Francisca durante um almoço preparado por ela. Após o diagnóstico, ela é obrigada a abandonar a casa, sendo conduzida pelos próprios pais para um ponto isolado da chapada.

“Francisca morre para que a neta de Joana fosse curada. Morre para que cada pessoa que tem fé nela alcance a graça que esta buscando”, diz Natal, divagando sobre o significado simbólico que se pode tirar da narrativa.

Ele conta que uma das preocupações foi não dar ao filme um tom panfletário, didático para alertar o espectador sobre a doença de Francisca. “O ponto maior é o da religiosidade popular, apesar da hanseníase ser o motor da trama toda. A criatura sofre, se ilumina e vira santa”, explica ele, destacando o sacrifício de Francisca Carla ao aceitar a condição que lhe foi imposta pela sociedade.

Baixo orçamento

A produção começou a ser articulada em 2007, quando o projeto ganhou o edital da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. Daí para o início das gravações foram quase três anos. Nesse tempo, eles conseguiram patrocínio da Prefeitura de Tianguá, por meio da Secretaria de Educação, Cultura e Turismo; do Governo do Estado, via Secretaria de Cultura do Ceará e Secretaria de Turismo, além do apoio de comerciantes e empresários da região.

“A gente tinha quase 100 figurantes, tinha um projeto de cenografia que fugia do que podíamos pagar. Dá um desespero vê que as coisas não vão sair como planejado. A gente pensa que o filme vai acabar”, conta Natal, lembrando das dificuldades de realizar um filme com baixo orçamento e, ainda de quebra, como estreante. Foi preciso excluir sequências, enxugar elenco. No fim, ele garante, o resultado foi bastante positivo.

Após a exibição do filme em Tianguá durante um mês na Associação Cultural de Amigos da Arte (Garatuja) e estreia em Fortaleza no Cine Ceará 2011, eles buscam apoio na intenção de circular festivais Brasil a fora. “Os festivais são um canal legal para se divulgar, pois tão importante quando fazer um filme é mostrar”, avalia. Para saber mais sobre o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase ou mais informações sobre a doença, acesse http://www.morhan.org.br.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

GALPÃO ( letra e música: Marta Aurélia )

no galpão o espaço cria
em cada cria recria vida
cores, cangas, pastas e cores
além da areia mais areia ainda
o crepitar da criação explodindo
por todos os olhos, por todos os poros
além de pingos, o dilúvio de sensações
elementos, idéias, peças,
tudo o que interessa
respiração

desafio à realidade:
o alimento é a criação

janjão, marcelo, lua, cristiano, dim,
eu de mello, simon, maurí,
nelly, pedro, kátia, marta, danilo,
tereza, gato, juliana, fábio e quem mais vier...

laboratório de idéias e artes,
tudo o que aqui faz parte
está na arte que arde até tarde
até vibrar a última gota de suor

*homenagem à intensa vivência de montagem do espetáculo Batuca o Bode, dirigido por Nelly Frank, com Danilo Souto Pinho ( Azul ), Katinha ( Cinza ), Pedro Domingues ( Vermelho ) e Marta Aurélia ( Preto ) na segunda metade dos anos 1990. Artes e figurino: Marcelo Santiago.

*Galpão: Laboratório de Artes Visuais, de Marcelo Santiago, onde ele cria suas peças e por onde circulavam diariamente - e alguns até moravam -  muitos artistas de diversas linguagens: artistas visuais, atores, músicos, gente de circo etc. Gente de toda parte, incluindo estrangeiros. Houve quem quisesse organizar e fazer reuniões mas tanta energia criativa junta fez explodir e eclodir criações que se espalharam pela cidade e pelo mundo. Lá montamos e ficamos em cartaz com Batuca o Bode, uma adaptação feita por Nelly Frank de uma peça infantil austríaca mas que, na sua leitura, gerou um espetáculo de gênero híbrido e poético, atraíndo uma platéia de adultos e crianças.

sábado, 11 de junho de 2011

FRANCISCA CARLA - NARRATIVAS DE DEVOÇÃO





Maria de Araújo e Francisca Carla - Arte e Fé no Cinema

A vida mais uma vez me coloca na pele de um ser humano incrível e, num viés paradoxal, internado em fé.  Ou posso dizer que empresto minha pele para que mulheres especiais possam reencarnar num outro momento histórico, coisa que a arte nos capacita a fazer nesta vida terrena. No final dos anos 1990 foi Maria de Araújo ( filme Milagre em Juazeiro, de Wolney Oliveira* ), aquela na qual a boca serviu de lugar para a operação de milagres, em companhia de Pe. Cícero, segundo a fé de milhares de pessoas que até hoje lotam as ruas de Juazeiro do Norte em procissão. Não que esse fato não tenha gerado desde o início mais do que polêmica e tenha-lhe custado ( à beata em questão ) a descrença por parte de autoridades clericais, sua liberdade e a levado ao ostracismo, reerguida à visibilidade só mais recentemente por pesquisadores, artistas, escritores e gente de fé. Foi de fato uma das experiências mais impressionantes que tive como atriz e que me valeu também uma transformação pessoal e artística.

Agora me vejo encarnando Francisca Carla, uma mulher sem rosto - diria mais: sem corpo -, falecida nos anos 1950, diagnosticada com hanseníase ( lepra ), uma doença estigmatizada e sobre a qual a sociedade ainda hoje sabe pouco ou quase nada, mesmo que a medicina tenha avançado e promovido tratamentos e cura. Após ter passado tanto tempo desde que simplesmente isolavam os hansenianos, ou leprosos, a sociedade ainda os mantem sob olhares e receios preconceituosos. Vale a pena conferir, por exemplo, o trabalho feito pelo Morhan-Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase Brasil afora, ou adentro, do qual participam Ney Matogrosso e Elke Maravilha, também atores no filme Francisca Carla-Narrativas de Devoção, de Natal Portela (*).

Francisca Carla foi exilada nas matas de Tianguá até a morte, sem direito a nenhuma aproximação humana, nem mesmo de animais, desde um diagnóstico feito a partir de observação superficial, às pressas, segundo alguns relatos. Enquanto trabalhava nas gravações do filme e avançava nas matas onde  ela viveu seus últimos anos, me perguntava como era possível a um ser humano viver numa exclusão tão radical com tanta resignação e ter se transformado num ícone de fé ali mesmo, na cidade que a excluiu. Francisca Carla não somente dá nome a ruas, lojas, farmácias em Tianguá. A ela as pessoas da cidade e de outros lugares recorrem em desespero na busca da solução milagrosa de seus problemas. Ela ainda é tema de livro, pesquisa acadêmica e agora de filme*.

Não tenho a intenção aqui de explorar e aprofundar reflexão sobre esses dois mitos da religiosidade brasileira; deixo a outros mais afeitos e preparados a essa tarefa . Gostaria apenas de ressaltar aqui a sincronicidade presente no encontro com essas mulheres, como essa relação entremundos passou a ter força no desenrolar dos fatos de minha vida pessoal e profissional e como o cinema, nesses casos, serviu de ponte muldimensional. Não é incomum acontecer coisas assim também no caso da música, do teatro, do Rádio, que são as linguagens com as quais mais me afino e mais pratico. Não tenho dúvidas de como a arte e a fé guardam relação estreita entre si e como essa intimidade entre ambas gera uma força de transformação na vida, mudando paradigmas. Aliás, me parece que não há arte sem fé e nem fé que não transforme algo em objeto de beleza e transcendência. E, por que não, de cura!

*os filmes Milagre em Juazeiro, de Wolney Oliveira ( Mostra Religião e Religiosidade em Juazeiro do Norte ), e Francisca Carla-Narrativas de Devoção, de Natal Portela ( Exibições Especiais no Espaço Unibanco, Dragão do Mar, Sala 1, domingo, dia 12, às 20 horas ), estão na programação do www.cineceara2011.com. Programação aberta ao público.

sobre os filmes:
*http://arquivoxdecinema.blogspot.com/2011/04/milagre-em-juazeiro-de-wolney-oliveira.html
*http://jornalibiapaba.com.br/?pg=entretenimento&v=1&enquete=5&opcao=20&id=255

sábado, 7 de maio de 2011

"Se você coloca uma determinada ação ao lado de outra, elas se transformam mutuamente e as suas direções também. Quando todas estão juntas cada uma também se altera." Pina Bausch

ELE QUERIA SER SANTO ( letra e música: Marta Aurélia )

ele queria ser santo
ele queria cuidar do mundo
ele queria amar a todos
ele queria amar os homens
ele queria amar mulheres
ele queria comer

ele queria colo
ele queria mãe
ele queria pai
ele queria paz
mas o que ele queria mais

ele queria ser santo
ele e seus ancestrais
na encruzilhada da rua

ele dava 'a volta'
ele queria ser
ele queria casa
ele queria crer
que ele queria ser santo
dizem que tinha esquizofrenia
ele queria poesia
ele vivia à deriva
brincava de não ser

ele catava coquinho
ele mentia pra não sofrer
filosofia do corpo
mitos para viver

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A DOR ( Mona Gadelha - Álbum Salve a Beleza, de Mona Gadelha )

A dor escorre pelos cantos
entre as notícias dos jornais
não sei pra onde vai todo esse pranto
perdido em coisas tão banais
A dor
de quem é a dor
me diz aonde é que dói mais
A dor
de quem é a dor
me diz aonde é que dói mais
A vida líquida se esvai
como uma ilusão que se refaz
e a dor batendo e latejando
e o sentimento tão fugaz
A dor
de quem é a dor
me diz aonde é que dói mais
A dor
de quem é a dor
me diz aonde é que dói mais

quarta-feira, 13 de abril de 2011

sobras do dia ( letra e música: Marta Aurélia )

desfio desafios
desvios
desde que estive
no que sobrou do dia
fios e mais fios
afim de afinar noite e dia
sintonia
que por isso se fia
afia
olho no olho
cara e sentido
que por esse caminho se via
...

mãe ( ceumar )

Ela foi a primeira voz
Desde a primeira vez
Que o som se fez
Nunca desafinou
Nunca perdeu o tom
Cantarolava feliz
Cada verso diz mais
Quando vem emoldurado
Por sua voz
E eu aprendi muito bem
Sempre tento ecoar
A voz primeira
A voz mais bela
A voz de mar
Da minha mãe
...Wilmar

sábado, 2 de abril de 2011

sombras de quarta

'Nesta quarta sobram sombras que desenham as mais indistinguíveis formas deste lado das lembranças que habitam essa presença que sou eu em mim. Indistinguível é esse eu que desconheço.' Marta Aurélia 30-03-2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

EL CASTILLO FANTASMA

En el más verde de nuestros valles,
   Donde habitan los ángeles,
Había un castillo -
   Un castillo espléndido
Que alzaba su radiante frente
   En el reino del pensamiento.
Jamás serafín tendió sus alas
   Sobre edificio más soberbio.

Y hoy los viajeros, en aquel valle,
   Por ventanas color de fuego,
Ven grandes formas bullir fantásmas,
   Discordes músicas siguiendo;
Mientras cual turbio, rápido río,
   Por el lívido portal abierto,
se lanza la tórrida turba
Riendo - ya nunca más sonriendo.

                                                    Edgar Allan Poe

domingo, 27 de março de 2011

O teatro, a vida e eu... percursos, descobertas e intensidades! ( 1 )

Quando me vi, pelos idos dos anos 1980, estava envolvida com pessoas de teatro, indo ao teatro pelo que há de mais dentro nele: ensaios de peças teatrais, e depois provando daquilo que o constitui, essencialmente, que é a relação do ator com o público. A Noite Seca, de Geraldo Markan, foi a primeira peça da qual participei, a convite do próprio autor, de forma súbita, por ocasião da saída de uma das atrizes ( Mércia ) justamente numa das vezes que presenciei a reunião do grupo, levada por um dos amigos atores ( Júlio César Maciel ).

Sentada no chão de uma das salas do DCE - Diretório Central dos Estudantes da UFC, no centro de Fortaleza, apreciando os exercícios conduzidos pelo diretor, Guaracy Rodrigues, surpreendida com o convite feito por Markan, não lembro nem de ter respondido e já me vi caminhando pelo fio imaginário no qual treinávamos todos o equilíbrio-desequilíbrio que caracteriza a cena teatral. A peça fora censurada pela polícia federal e só pudemos apresentá-la a portas fechadas no auditório da Faculdade de Direito da UFC e depois no Festival de Teatro promovido pela Confenata em 1983, onde vivemos durante mais de 10 dias uma das experiências teatrais e de vida mais intensas e que repercutiram para além daquele labirinto criativo que eram as dependências do Teatro Taib, no centro de São Paulo.

A próxima experiência teatral veio a convite de Fernando Piancó - que havia trabalhado em A Noite Seca - para integrar o elenco de LABIRINTO ou aqui julgam que és néscio mas se cochilar o cachimbo atrasa, o relógio entorta, a cabeça afrouxa, o parafuso cai, o periquito assobia e tu ó!, com texto e direção de Artur Guedes. Guedes foi um dos grandes diretores e dramaturgos em Fortaleza na década de 1980 e para além desses anos. Irreverente, exigente e criativo, vivi com ele alguns dos momentos mais instigantes do fazer teatral  nesse período, seja nos palcos convencionais, na rua, no rádio, nos bares ou outros espaços da cidade. Com ele aprendi que não é o espaço físico que determina o teatro que vamos fazer mas a ação que escolhemos para compartir com o público. Assim, sentíamo-nos livres para atuar em qualquer lugar.

No final dessa década, outro convite me deu oportunidade de mais uma guinada nessa vivência com o palco. Joca Andrade me liga do Theatro José de Alencar para fazer inscrição no curso de interpretação para atores ministrado por Maurice Durozier e George Bigot, do Thêàtre du Soleil. Eu estava um tanto desestimulada, havia saído do Grupo Raça de Teatro, vivia uma crise existencial e de valores estéticos. Num primeiro momento recusei, ele insistiu, disse que eu não tinha nada a perder, caso não gostasse era só sair. Uma centelha intuitiva acendeu e fui. E foi como uma longa viagem sem volta. A vida no palco sob a condução desses dois admiráveis atores foi de uma radicalidade que me transformou para sempre e criou vínculos afetivos que também permaneceram. Com Maurice de volta a Fortaleza, 20 anos depois, tive outras intensas experiências teatrais, em 2008 e 2010, o que fez ampliar nossa relação de amizade, teatral e musical. Com ele ficou mais claro para mim o chão, constituído da relação música-teatro, por onde a arte me leva.

Alguns espetáculos surtiram também efeito transformador em minha vida. Um deles foi O Castelo de Holstebro, no início dos anos 1990, no Theatro José de Alencar. Foi o primeiro contato com a obra do Odin Teatret, de Eugenio Barba, e com a presença cênica impressionante de Julia Varley. Seja do alto das pernas de pau onde equilibrava a figura híbrida de Mr. Peanut ou, em plano baixo, recitando um poema num barco à deriva que atravessava o palco numa lentidão envolvente, Varley abriu para mim, definitivamente, a poética da cena teatral. Quase duas décadas depois pude confirmar isso com o seu retorno ao mesmo palco, seja ao reencontrar Mr. Peanut, agora sem pernas de pau, mais amadurecido, seja com Doña Musica, uma bela encenação poética de sua relação com o diretor e sua personagem, seja fazendo demonstrações técnicas de seu trabalho como atriz durante palestras de Barba.

sábado, 12 de março de 2011

Dingo e Mamãe Memésia: a poética do vivido...

Desde os tempos mais remotos de minha infância, na mais brumosa lembrança, mora em mim o gosto pela poesia. Digo que o gosto mora em mim porque tenho a sensação de que é algo que independe de minha vontade, não é algo que eu tenha escolhido como quando escolho com quem morar. A poesia me acolhe, por exemplo, na travessia entre certas lembranças que tenho de minha infância em Banabuiú e a projeção que faço destas a partir do que sou hoje. É como se não tivesse vivido de fato tudo o que lembro do que vivi naquele período em que morava na Rua do Arame, vizinho à casa de D. Nemésia, que eu chamava de Mamãe Memésia, e seu marido, Seu Domingos, que eu chamava Dingo.

Dingo e Mamãe Memésia são como personagens de um conto de fadas. Filha de uma jovem mãe inexperiente e um pai que se ausentava constantemente devido às viagens a trabalho, tinha no casal a acolhida afetiva própria às famílias calorosas e amorosas, com suavidade e delicadeza. O terreiro de sua casa era lugar de encontro da vizinhança que sentava nos bancos dispostos em círculo sob uma bela algaroba para narrar e ouvir histórias, recitar poesia de cordel ou mesmo jogar conversa fora. Eu estava sempre por perto, muitas vezes atraída e amedrontada, devido à descrição de histórias e personagens fantásticos e também ao suspense que caracterizava a maior parte das narrativas. Costumava, então, correr para dentro da rede, mantida permanentemente armada no corredor da casa. Cobria-me toda com lençol e com a varanda da rede e era comum sentir que, por mais coberta que estivesse, nada me impedia de quase ver o objeto amedrontador. Sentia como se atrás de mim tivesse ido toda a legião de personagens dos quais eu havia fugido.

Até hoje tenho dúvidas se alguém mais real, que eu suspeitava pudesse ser um dos filhos do casal, se divertia aproximando-se lentamente e mexendo na rede elevando assim meu estado de medo ao terror absoluto. Nesse instante até a respiração paralisava. Essa era a única hora do dia em que meus prediletos vizinhos, envolvidos na trama noturna de sua imaginação, se transformavam em seres estranhos e fantasmagóricos, muitas vezes transformando meus sonhos em pesadelos.

Nada disso, entretanto, me afastava dali nem tampouco manchava a doce imagem que eu tinha de Dingo e Mamãe Memésia, e o afeto que eu sentia - e sinto - por eles. Quando nascia o dia seguinte, eu contava as horas e os passos de volta à misteriosa casa de sonhos. Sempre via Dingo saindo. Ele costumava caminhar muito pela cidade. Nunca soube exatamente porque caminhava tanto, mas, certamente, tem a ver com o fato de que era o provedor da casa. Alto, magro e de cabelos de algodão, mantinha um eterno sorriso afetuoso no rosto e sua fisionomia se aproximava a de um duende. Parecia acolher a todos do mesmo modo, com infinita bondade, para além do lar, para além da cidade.

Enquanto Dingo, para mim, era a cidade, o mundo, Mamãe Memésia era a casa, o lar. Ela parecia não sair nunca, estava sempre ali, cuidando de tudo, com sua marcante quietude. Além de cozinhar no seu fogão à lenha, mantinha tudo limpo, arrumado. Era guardadora de mistérios. Eu caminhava por toda a casa procurando vestígios do que se passara à noite. A longa casa - janelas e portas abertas, corredor do quintal ao terreiro, a claridade do dia ocupando-a por inteiro, os afazeres domésticos de um cotidiano comum - não parecia ser locação de viagens e performances de seres de outros mundos. Parecia, entretanto, que todo o trabalho diurno de Mamãe Memésia tinha por objetivo cobrir com o manto do mistério os vestígios da noite.

Mesmo assim, eu tinha a impressão, algumas vezes, que os objetos da casa suspiravam, gemiam, falavam com vozes tênues, chamando-me. Não devia ser mesmo uma tarefa fácil fazer com que se aquietassem enquanto nos movíamos entre eles. Eu dava voltas numa incansável investigação da presença do mundo para onde viajara à noite. Ele estava ali, em algum lugar, eu sabia. Talvez dentro do baú, um dos móveis com que mantinha uma relação mais estreita. Pequena, me metia nele, entre lençóis e colchas de cama, inalando o delicioso cheiro de tudo, até que Mamãe Memésia vinha me chamar oferecendo alguma guloseima, no que eu atendia prontamente.

Já vai longe esse tempo. Depois que vim morar em Fortaleza perdi contato físico com os dois e não saberia dizer quando Dingo e Mamãe Memésia passaram a morar nesse lugar da minha memória entre o sonho e a realidade. Sei que ainda posso sentir seu cheiro, ouvir suas vozes, sentir seu calor. E que suas imagens e seu afeto me inspiram e me acompanham sempre.

terça-feira, 8 de março de 2011

"A amizade é a condivisão* que precede toda divisão, porque aquilo que há para repartir é o próprio fato de existir, a própria vida. E é essa partilha sem objeto, esse com-sentir originário que constitui a política" Giorgio Agamben

*condivisão: o compartilhar

segunda-feira, 7 de março de 2011

SER GRANDE

"Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive."

Fernando Pessoa

domingo, 6 de março de 2011

Devaneando: entre Olhos de Cão Azul e A Poética do Devaneio I

Li o conto Olhos de Cão Azul, de Gabriel Garcia Marquez, há muitos anos, e ele me marcou de um modo que ainda descortino para mim mesma aos poucos. É, além de uma experiência estética, uma experiência também psicanalítica. Minha relação com sonhos sempre foi muito forte desde a mais tenra idade. Recordo-me de alguns que tive ainda na fase quase bebê. Na verdade tenho uma memória desse tempo bem ativa. Fatos extraordinários são muito vivos na galeria de imagens de minha memória. Geralmente figuram num espaço intermediário entre o sonho, o devaneio e o campo da cotidianidade. Às vezes se faz nebulosa a linha que definiria qualquer dessas áreas.

A cotidianidade, por vezes tida como o que levaria - ilusoriamente - ao sempre, ao eterno, interrompe-se, abruptamente ou não, com o imponderável, com o impermanente, com o perecível. O sonho nem sempre goza do status atribuído ao cotidiano, mesmo que nem possamos desvincular um do outro. Crê-se imediatamente que é sonho o sonho, ilusão imanente. Somos, por excelência, sonhadoras e o que seria da humanidade sem os sonhos? Muitas vezes nos dão matéria prima para a melhor compreensão de nós mesmos. Na experiência noturna, somos capazes de sonhar , vertiginosamente, muitos sonhos diferentes e nem sempre recordamos todos eles. Mas sonhos são, também, estranhos e " A estranheza de um sonho pode ser tal que nos parece que um outro sujeito vem sonhar em nós". No devaneio, entretanto, a solitude nos acompanha. É um estado da alma, "um fenômeno da solidão, um fenômeno que tem sua raiz na alma do sonhador". Somos, na solidão do devaneio, criantes, inclinadas a criar condições para fazer emergir a poesia. Bachelard, no encalço dos adjetivos úteis a dizer poéticamente, chamará de "devaneio poético", "devaneio cósmico" esse estado da alma que produz "matéria mais propícia para ser modelada em poemas".

Alguns sonhos chegam à consciência e estes talvez passem a ocupar a galeria dos que serão lembrados. Aqueles com os quais - talvez - dialogaremos numa instância que poderá interferir, de forma transformadora, nos passos que daremos no dia a dia. O devaneio é essa dimensão que nos coloca diante de um novo tempo. Um tempo de descanso, de paz, de felicidade. "Existem faixas de tranquilidade em meio aos pesadelos" dirá nosso filósofo francês. Sonhos, devaneios e cotidianidade constituem, assim, uma tríade que nos projeta à dança da vida.

Na solidão de minha alcova, numa experiência de 'onirismo desperto', ruminando A Poética do Devaneio, no que concerne ao feminino das palavras, ao conflito entre o masculino e o feminino no interior da linguagem ( temas para outra escritura ), assalta-me a lembrança do tempo que vivi, mais intensamente, a repercussão na mente e no corpo, da leitura de Olhos de Cão Azul. Mais que uma leitura uma vivência, que também é leitura. Como a personagem feminina do conto de Gabriel Garcia Marquez, saía por aí procurando aquele que me aparecia em sonhos. Escrevia em cadernos, agendas e, em alguns lugares por onde passava; em arroubos de absurda inclinação, ensaiava deixar escrito Olhos de Cão Azul. Passados muitos anos, decidi que levaria isso ao teatro ou ao cinema, dada a insistente centelha que ainda queimava. De algum modo, precisava contemplar essa demanda do espírito, da alma, surgida no encontro onírico com tais personagens.

Certa vez fui surpreendida por um amigo, também ator, que me fez o convite para que encenássemos esse conto. Viver no palco o casal que se encontra durante anos em sonhos e que, ao acordar, ele esquece e ela o procura por todos os lugares sem sucesso. Após o período em que nos afastamos - eu e meu amigo - e após reencontro e pacificação, pergunto-me se essa encenação contemplaria os anseios instigados e ilustrados pela leitura do conto de Marquez.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Espetáculo Estritamente Feminino

Cristina Francescutti, Marta Aurélia, Késia, Christiane Gomtos,
Lucinha Menezes e Lily Alacalay
Produção: Maira Sales
Direção: Clóvis Levy
*Tínhamos, na primeira formação desse elenco, a presença de Ana Fonteles, que saiu pouco tempo depois para morar nos Estados Unidos


quinta-feira, 3 de março de 2011

"O devaneio, tão diferente do sonho noturno, tantas vezes marcado, este último, pelos duros acentos do masculino, nos aparece, com efeito - desta vez para alem das palavras -, como sendo de essência feminina. O devaneio vivido no sossego do dia, na paz do repouso - o devaneio verdadeiramente natural -, é a potência mesma do ser em repouso. É verdadeiramente, para todo ser humano, homem ou mulher, um dos estados femininos da alma" Gaston Bachelard ( A Poética do Devaneio )

terça-feira, 1 de março de 2011

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Rataplã

    Rataplã,
é chegada a hora
de resgatar o verso suprimido,
sequestrado

É a hora
de reaver a dor interrompida
trespassada

    Rataplã,
eis que volta a esperança
de descoagular o grito engasgado,
enrouquecido

É a hora
de reatar o ato das mãos desatadas,
desfraldadas

    Rataplã,
é chegada a hora
de desrepresar o beijo desbeijado,
resfolegado

    Companheiro,
o tambor é nosso:
RA-TA-PLÃ!

                         Franzé Rodrigues

                                                              Para a Marta, musicalmente!
                                                              05.10.85

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

caos, fragmentos e voz poética

Dir-se-ía que muitas vezes é o livro que nos escolhe a lê-lo. Assim ocorreu hoje pela manhã na Livraria Cultura, onde passei mais para um café do que para buscar livros, pois que havia saído apressada, sem comer nada, para uma sessão de acupuntura nas imediações da livraria. Sem falar - a pedido do médico otorrinolaringologista - devido a uma laringite que incomoda há dias, me pus a pensar e a curtir o tempo que me foi dado às terapias de recuperação da voz e da saúde.

Sentada, aguardando o café pedido, levantei-me e fui a uma das prateleiras à minha frente e dei de cara com a Poética do Devaneio ( La Poétique de la Rêverie ), de Gaston Bachelard, que, como quem responde a perguntas feitas e outras por fazer no contexto do pensamento sobre a voz poética - pesquisa que aguarda minha dedicação - foi me presenteando com chaves que poderão abrir portas adiante, como, por exemplo, a escolha do método fenomenológico de pesquisa que levaria "a tentar a comunicação com a consciência criante do poeta".

Método e pesquisa à parte, agora me ocupo de indagar a que mesmo responde Bachelard, no caso dos meus devaneios e sonhos, tendo ele escrito na perspectiva da Anima. Essa é outra chave, pressinto. Somente a leitura me dirá se responderá ou não essa obra a quaisquer questões que me acompanham mais íntimamente. A questão de agora é como um pressentimento, um sonho ou um devaneio não trazido ainda à luz da consciência. Ela se antecipa às respostas porque ainda mergulhada na fonte das imagens primevas. Ainda, antes da palavra esclarecedora, ela é pura sonoridade, como diria Andréa Drigo, prestes a soar uma voz, uma música ou uma poesia.

Sem poder falar há dias, escuto minha voz num estágio de pré-expressividade poucas vezes entoada. A cada vez que calamos, escutamos. Calar e escutar enaltecem a sonoridade da voz que por sua vez - deseja-se! - soará acústicamente plena.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Violões: Felipe Breier, Marco Leonel Fukuda e Iago
Cuíca: Aristides Neto

PLUGADA E SOLVENTE - SESC IRACEMA - FOTO: IAGO


Identidade, de Mia Couto

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"


domingo, 13 de fevereiro de 2011

ADEUS ( letra de Marta Aurélia musicada por Aluísio Gurgel - de 2006 )

falei coisas para ele
nada de pedir para ficar
nada de pedir para voltar
na verdade, sussurrei
e ele começou a chorar
também chorei
mas me contive e deixei
que ele chorasse mais um pouco
que ele chorasse um pouco mais
que ele chorasse mais um pouco
que ele chorasse um pouco mais
do que eu

e levantei
e me vesti
e me arrumei
e disse adeus!

Acústica e Movente no Foyer do TJA: foto de Marcos Vieira

final de 2010

Plugada e Solvente - estréia no Sesc Iracema - 11 de fevereiro de 2011

Foto: Rogério Mesquita

Programa Porque Hoje é Sabado em 06-12-2010

ao lado de minha amiga Grazy Costa e Fabinho Monteiro, apresentadores do programa Porque Hoje é Sabado, da TV O povo

BILRO, letra e música de Marta Aurélia

a vida gira
o mundo gira
giramos todos
nessa bola de cristal
vejo você que gira
e eu que também giro
giro no bilro da tua mão
e no sorriso da tua mãe

a felicidade é para mim o giro
de toda emoção
e toda inspiração
da vida que torna
a girar infinda

se você gira em minha mão
vejo que nas linhas da tua
muitos ainda circularão

aquele que te come o pão
aquela que no colo te põe
órfão de pai e mãe

a vida gira
o mundo gira
giramos todos
nessa bola de cristal

da teia que tece o teu bilro
gira meu coração
da teia que tece o teu bilro
gira meu coração

( CD Bilro - em produção )

sábado, 12 de fevereiro de 2011

ÍNTIMA, letra e música de Marta Aurélia ( CD Síntese )

passo noites em claro
recriando andamentos e passos
noite sozinha em meu quarto
confio na cumplicidade do silêncio
do silêncio
pra que os pensamentos fiquem claros
e os sentimentos

muito do meu dia confundo
o passar das horas
passo a passo cada vez mais raro
me acomodo no caos
busco no palheiro a agulha
que tecerá outro ponto
na harmonia dos nós
e a sós nesse vão
sou mais íntima, mais íntima,
mais alma,
mais drão*...

..........................................................
*Drão ( música de Gilberto Gil )

RASTRO, letra e música de Marta Aurélia ( CD Síntese )

A cidade dorme
nessa hora vaga
Vago sem eira e nem sei
se por onde passo
há vida que me acompanhe o passo
me acompanhe o passo

Cada poste dá à luz
o que meus olhos nem sei se vêem
Só sei que passo
e cada vez mais para trás
vou deixando rastro

Pulsa a vagar pela rua
coração farto
um astro sem nome
um fantasma
um mergulho
um rompante
a saudade

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Terapia da Lingua, de Marta Aurélia

entre palavras e saliva
vai a lingua sobre superfície
ora plana, ora protúbera
de teu corpo
avança a lingua
com sua estrutura malemolente
nada fixa
movente
por entre as dobras de teu corpo
ora são os sentidos
ora são os predicados que acompanham
esse corpo que fala
que suspira
que geme
que grita
que lambe
que goza
constrói-se assim linguagem única,
uma poética de  sentidos.

Vozes

As vozes que escutamos ao longo da vida são também as vozes que nos constituem. Parte de nós está relacionada ao que entra através dos nossos ouvidos e penetra o nosso ser de várias formas. Algumas vezes são vocalizações suaves e delicadas, outras vezes agressivas, tempestuosas e até mesmo violentas. Algumas vozes se tornam tão marcantes que é possível que continuemos a escutá-las por muito tempo, mesmo quando seus locutores não estejam presentes, guardadas na memória. Memória afetiva. Em algum lugar do passado, num momento fortuito, soou um canto inesquecível. O momento se foi porém o canto até hoje está vivo nas entranhas fazendo emergir emoções revisitadas ou até mesmo novas emoções. Fazendo emergir também outra voz. Uma voz atravessada por outras que, mergulhadas no esquecimento ou não, podem a qualquer momento soar no presente.

Marta Aurélia

DRISHTI, poema de Marta Aurélia

Olhar de Buda
olhar de Brook
olhar de Vigo
das mulheres de Kodax
de Wenders
de Saramago
através da janela de quem vê com tudo
com as vísceras
com a veia
com a nuca
com a respiração
Olhar no além
para além dos olhos
para além da alma
para além do além
Olhar calmo
olhar no tempo de enxergar
olhar de pescador
de meditador
de quem medita a cor e a flor do mundo
no fundo é como existirmos em alma sem dor

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Acústica e Movente no Foyer do TJA: momentos

Foyer do Theatro José de Alencar
com Ivan Timbó ao piano
com Marco Leonel Fukuda ao violão
Fotos: Fernanda Oliveira

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ao léo

Um tanto à deriva, perde ele as contas dos passos que dá. Era só reminiscência de infância a brincadeira de contar os passos. Um, dois, três pareceu ouvir o som de sua própria voz quando contava para, ao se escutar, sentir-se acompanhado de alguém, no caso, de si mesmo. Por instantes, a incrível paisagem lhe remeteu ao dia em que passeava colado à saia de sua mãe, quando teve sua primeira experiência de sublime que sua memória alcança neste momento. Sua mãe tinha o poder de lhe fazer sentir-se livre. Talvez pressentisse sua ida precoce.

Diante do infinito, entretanto, amedrontou-se. Nunca havia se deparado com algo tão imenso que seus olhos não pudessem medir. Assaltou-lhe um instante de vertigem, como se o chão fugisse aos seus pés. Sentiu medo de se desligar de sua mãe. Imaginou, repentinamente, que ela desapareceria no horizonte sem fim levada pelo vento e por isso agarrou sua mão com força. Tanta força que ela lhe sorriu com carinho esclarecedor, e, como quem entende o que se passa com o menino diante do mundo dos grandes, sussurrou, confortando-lhe, um breve não tenha medo, estou aqui.

Era tudo que ele precisava naquele momento. Sentir-se seguro no colo de sua mãe. Voltou a contar os passos, quebrando a linha da memória, para seguir. Algumas lágrimas desceram discretamente lhe renovando a disposição diante da paisagem. O vento lhe tocava a pele de modo que se sentia acolhido por tudo que lhe cercava. Sentiu-se parte daquele lugar, desde a vegetação aos animais que menos via e mais ouvia. Sentiu-se parte do próprio vento, parte de tudo. Não precisava correr, apenas ser, daquele jeito, ali. Sua caminhada era um estado interior que acolhia a concretude do seu ser. Sorriu à sua sorte e à saudade!

domingo, 30 de janeiro de 2011

A repetição

Assim como os instantes da vida, os da arte, no caso específico do teatro ( e da performance ), são efêmeros, fugidios. E é aí que a repetição, o ensaio, torna-se algo fundamental. Buscar a repetição, num processo artístico, é não repetir e sim manter acesa a chama criativa.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

De ACÚSTICA E MOVENTE à PLUGADA E SOLVENTE em fevereiro de 2011

No próximo dia 6 de fevereiro, às 18h, faremos apresentação de Acústica e Movente no palco principal do Theatro José de Alencar. Um convite irrecusável para continuarmos pesquisando a relação entre música e teatro, entre voz e acústica, entre palco e platéia etc. A outra face é PLUGADA E SOLVENTE, com apresentações marcadas para o dia 11 no SESC IRACEMA ( 20h ) e no dia 27 no Theatro José de Alencar ( 18h ). São etapas de BILRO, projeto que resultará em gravações de CD ( produção de Alan Mendonça e aprovado pelo Edital das Artes da SECULTFOR ) e DVD em 2011.

Foto (Marta Aurélia e Catherine Furtado ): Iago

sábado, 15 de janeiro de 2011

Plugada e Solvente

No dia 11 de fevereiro de 2011 estréia PLUGADA E SOLVENTE no Sesc Senac Iracema, 20 horas. Plugada e Solvente junta os instrumentos acústicos do show anterior com os eletrônicos e equipamentos de som e luz. Também experimental, como a versão totalmente acústica, tem por objetivo servir de laboratório de experimentações que vão gerar o material que será registrado em CD e DVD. A banda-base é a mesma, agora acrescida das vocalistas-atrizes Natasha Faria e Soledad Brandão, que ajudarão a incrementar a relação música-teatro.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Acústica e Movente

Acústica e Movente: espetáculo não-espetacular cênico-musical, totalmente acústico, que apresentei no Foyer do Theatro José de Alencar na companhia de Jorge Santa Rosa, Felipe Breier, Marco Leonel Fukuda, Ivan Timbó, Erivan Produtos do Morro e Iago. Participações especiais em datas diferentes da temporada ( aos sábados de outubro, novembro e dezembro de 2010 ): Michel, Aristides Neto, Lil Black, Mestre Cerebral, Júnior Quintela, Rodrigo de Oliveira, Catherine Furtado e Jefferson Portela.

Foto: Fernanda Oliveira

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ruminando...

Ruminando sobre como a vida nos oferece novos começos, às vezes sutilmente perceptíveis, resolvi deixar compromissos de agenda para me colocar diante da tela do computador em busca de imagens dessa paisagem que me inspira. Hoje inicio essa viagem por dentro ( por dentro? ) do mundo dos blogs, que só conhecia por fora ( por fora? ). Caminho desconhecido, vou devagar para aprender sobre esse novo mundo, apreciar encontros e novas paisagens.